A Procriação Literária: Como pari um livro durante o puerpério.
É interessante como a vida é cheia de surpresas. Durante a minha gestação, muitas amigas me disseram que no dia do parto nasceriam duas pessoas: o meu bebê e uma nova mulher. Embora eu achasse isso clichê, fiquei ansiosa pelo parto gemelar em que só uma cabeça passaria por mim. E assim, pari um bebê e amei com todo o meu coração. Mas também sofri porque não conseguia amamentar e cuidar do meu filho com a mesma plenitude de uma mãe de novela da Globo.
Logo após o parto, veio o segundo trabalho de parto: o puerpério. As contrações se manifestaram pelo medo da morte e da substituição como mãe do meu filho. Despi-me de todo ciúme ou insegurança que eu, como esposa, poderia sentir e comecei a mapear as opções de mães elegíveis para minha substituição. Durante três dias, dei uma de doida, enumerando pretendentes para me substituir, até que a ocitocina estabilizou e eu pari uma escritora.
Nasci tímida e insegura, com receio de gerar expectativas que pudessem ser frustradas. Gestei um livro escondida, numa gravidez de elefante (ou da Sabrina Sato), já que durou três anos. E, em 2020, no meio de uma pandemia, e talvez por me sentir mais segura no meu casulo conhecido como isolamento social, tirei de dentro de mim, com fórceps, a história de um coração dividido e dei à luz meu livro primogênito.
E o que isso tem a ver com o puerpério? Bom, transferi meu medo para a personagem que criei. A Lina vive uma vida plena, com grandes encontros, desilusões e bons amantes. Porém, ela se depara com a possibilidade de uma morte e com o desejo de permanecer perto daqueles que ama. A solução vem na venda casada: leve o meu coração e ganhe a minha vida.
Tá aí. Gostei desse negócio de procriar. Dizem que o segundo escorrega. E por isso, pari meu caçulinha, que chegou para concluir essa história e revelar o final que imaginei para tudo isso.